[25] voltei para a terapia e você também deveria
é um sinal? talvez. quando foi a última vez que você falou sobre sua vida?
desde ano passado não tinha ido para terapia. era um assunto complicado, eu fui parando, fui me afastando, sentia que a vida tava melhorando e não tinha mais tanto tempo.
um dia, aconteceu algo que eu fiquei mal o suficiente para não conseguir trabalhar, estudar e viver. não saía de casa. não conversava, chegava, fazia o que tinha pra fazer e fui embora.
e isso me lembrou de 2017, um ano que tentei suic—dio e fiz esse mesmo processo de se enfiar em minha própria concha.
as a seashell.
they had to call and call
and pick the worms off me like sticky pearls.— sylvia plath
vivi muitos momentos conturbados da minha vida em que eu me sentia um bicho em carne viva de tanto apanhar e precisava criar casca. muitas vezes errei, muitas vezes era uma falta de entender o que aconteceu. outras várias vezes, foi achar que não tinha mais saída, que o pânico que instaurava em mim nunca sairia.
fui lidando com minha tristeza, com raramente sabendo como poderia melhorar, fazer algo por mim. deixava aquilo me despedaçar como uma traça em livro. não sabia mais distinguir meu sorriso com algo que fosse apenas uma persona. abriam as cortinas, eu era outra pessoa.
them unwrap me hand and foot—
the big strip tease.
gentlemen, ladies
these are my hands
my knees.
I may be skin and bone,
nevertheless, I am the same, identical woman.
— sylvia plath
em choros no banho, escondida no quarto, desaparecendo aos poucos, quando eu já nem aparecia mais. parecia que quanto mais sentia que minha existência poderia atrapalhar, era melhor não incomodar nunca mais.
não adiantava: elogios, carinhos, recompensas, conquistas. eu seguia trabalhando, fazendo o meu, com calma. nada me alegrava. a falta da terapia veio aí e com um score maior: precisava de psiquiatra também.
nesse meio, descobri uma compulsão alimentar, ansiedade e fibromialgia. muita coisa para lidar, mas busquei pessoas ótimas e tenho hoje uma equipe que cuida de mim.
voltei a estudar, a questionar, a sorrir aos poucos de forma genuína. a chorar menos, ainda bate a solidão, mas, é gostoso ser humana novamente.
comprei passagem pra minha cidade natal, vou visitar minhas avós e a rua que cresci. conhecer amigas da internet e sorrir olhando pro mar. agora, o trabalho é em dobro pra realizar esse sonho a tempo em novembro.
o processo é uma metamorfose, como falei: parecia um bichinho em carne viva e que iria criar uma nova pele. nisso, fiz algumas leituras que levo em terapia e outras que vão ajudar no processo.
— amiga com piscina, daiana de souza
leila cresceu ouvindo que precisava ser independente, carregava no peito a obrigação de “vencer na vida”. marina sempre teve tudo. uma vivia numa quitinete com a mãe; a outra, numa mansão, com os irmãos e pais engenheiros. o que as uniu? um encontro no banheiro da escola técnica federal e o desejo comum de fugir — dos olhares, das pressões, das certezas alheias.
entre as diferenças sociais que atravessam o ensino médio e as mudanças que chegam com a vida adulta, amiga com piscina acompanha os anos de formação de leila — e de sua amizade com marina — enquanto elas atravessam o vestibular, a universidade, os amores e os perrengues de crescer no brasil dos anos 2000.
foi uma leitura que me remeteu a infância, os sentimentos de primeiros dias e criação de amizades, a ambientação é em Macaé, cidade das minhas avós. me empurrou a buscar essa memória.
— o escravo, carolina maria de jesus
“somos escravos de tudo que desêjamos possuir. ninguem é livre neste mundo.” neste romance inédito, carolina maria de jesus apresenta uma história de amor e desilusão entre dois jovens de classes sociais distintas.
foi uma releitura: já tinha lido no final da faculdade, mas decidi reler com mais calma e carinho, sem a correria da graduação. o significado do livro me fez refletir sobre exatamente isso: ser escravo do que desejamos possuir, do que sonhamos, das pessoas, dos sentimentos.
nesse livro lemos uma novela da globo bem gostosa e barracuda, mas aprendemos muita coisa sobre relações e sonhos. ficamos em choque e levamos muito tapa na cara. me fez pensar o quanto me cobro na vida e me torno escrava dos meus traumas que me impedem de seguir em frente.
— infinita, camila maccari
escrito na linguagem avassaladora característica da obra de camila maccari, este romance faz pensar sobre a experiência do corpo, seus limites e os impactos dos padrões inalcançáveis a que somos submetidos cotidianamente.
fim de expediente, num dia cansativo, uma mulher resolve tomar uma cerveja em um bar, sozinha. acomoda-se, fala com o garçom e nos próximos minutos viverá uma experiência marcante - e apenas aparentemente banal. a cadeira em que ela está sentada se quebra e a protagonista desta história vai ao chão. é o garçom que tenta ajudar, mas o que ela sente não pode ser amparado por ninguém.
comprei uma balança faz um mês. decidida a parar de frequentar rodízios como “recompensa” pelos dias mais pesados de trabalho e semanalmente beber álcool e parar de cagar na minha saúde comendo queijo e pão sendo intolerante a glúten e lactose, eu finalizei um período da minha vida que eu não aguentava mais.
em uma semana, com dieta sem comer algo que me deixasse com dores porque era gostoso, perdi 2kg. gente, se você não pode comer coisa com lactose, não coma. sério. de fim de semanas comendo pizza, logo criei crises de dor porque meu corpo não dava conta. é tão óbvio, sei que é gostoso, mas precisamos repensar. uma hora nosso corpo cobra.
a questão é que infinita tem a “voz do corpo” que é a cabeça da protagonista, que se julga, machuca, ofende os outros dentro da mente dela. essa voz foi meu gatilho pra fechar o livro e só abrir duas semanas depois, refletindo o que eu tava fazendo comigo mesma, minha forma de ver o mundo, corpos e alimentação. tive que reler para um clube e isso me engatilhou para mudar mais ainda. o final é doido, malucasso, mas vale a leitura. a Camila é genial, prometo.
o que aprendemos com essa newsletter?
a vida dá surras. as vezes, a terapia não tem alta. livros podem ser refúgio.
muitas coisas, né?
o clube de leitura tem me ensinado muito a ver outras perspectivas também e tenho explorado outras leituras. a vida têm sido gentil de me dar segundas chances. os livros têm me dado segundas chances.
espero que isso te inspire a buscar ajuda terapêutica e psiquiátrica, uma endócrino, uma reumatologista, uma nutricionista… não adie sua saúde. a vida não adia cobranças.
vá visitar sua avó, sua cidade, sua escola. onde é seu refúgio? onde é seu ponto de partida? restauração?
enfim, espero que você tenha se inspirado aqui. quero voltar a escrever semanalmente. preciso!
te encontro na próxima semana, acredito eu. beijinhos!
veja o que ando escutando:
amo a Luedji Luna e a Noize vai mandar vinil dela em breve na assinatura! estou feliz.
gente, eu só escuto isso trabalhando. eu vou enlouquecer!
“saía na chuva a noite em busca de namorados, todos parecidos: todos mal humorados” pelo amor de deus Ebony me fez chorar no banho…
foi uma delícia revisitar a pré-adolescência e eu cheguei a ouvir por uma semana INTEIRA de tão viciada. quero o vinil agora!
esse lançamento tava completamente sem expectativa até ler essa bendita letra e ser mais consciente com meu dinheiro.
ouvi num show recentemente e chorei. chorei como nunca tinha chorado. eu já tinha escutado antes, mas sabe quando você tá exausta e te pega? foi isso.
“é, talvez… a sua imaginação esteja tão limitada por problemas reais”
Muito importante essa news amg, sinto que muitas pessoas sentem vergonha de pedir ajuda e é sempre importante reforçar o quanto isso é necessário quando precisamos, e suas indicações de livros maravilhosas como sempre, amo.